Todd MacFarlane critica Sony por suavizar Venom e afastá-lo de suas raízes
Em uma declaração que já está repercutindo nos bastidores do universo Marvel, Todd MacFarlane, co-criador de Venom, revelou hoje o que faria de diferente nas adaptações cinematográficas e criticou, de forma bem direta, a abordagem adotada pela Sony no que diz respeito ao personagem.
Segundo MacFarlane, “Venom não é um bom cara” – algo que, para ele, ficou totalmente perdido após sua saída da Marvel.
With you to the end. 🖤 Witness the epic conclusion in #Venom: The Last Dance exclusively in theatres October 25. pic.twitter.com/N0qwsmM12t
— Sony Pictures (@SonyPictures) September 12, 2024
Em entrevista, MacFarlane explicou que, se tivesse tido a oportunidade de escrever e dirigir os filmes, as coisas seriam bem distintas.
“Se você me perguntasse se eu teria feito exatamente como fizeram, a resposta seria: com certeza, não!”, afirmou o criador.
Para ele, a essência do personagem estava em ser um vilão – algo que se afastou após sua partida.
“Na minha cabeça, Venom era um vilão.
Depois que saí, me virei e pensei: ‘Como assim Venom virou um bom cara?’”, completou, ressaltando que sua visão sempre foi pautada num tom mais sombrio e sério.
A crítica de MacFarlane não se restringe apenas à trajetória de Venom.
Ela ecoa uma preocupação maior com a forma como o Universo Sony de Spider-Man tem tratado seus personagens.
Com a exclusão do Homem-Aranha dos filmes, a estratégia adotada passou a dar ênfase a vilões e coadjuvantes – no caso, inclusive, personagens como Madame Web – o que, na opinião do co-criador, acabou transformando figuras icônicas como Venom, Kraven e até Morbius em anti-heróis.
“Parece que, para agradar a um público mais amplo, resolveram suavizar a figura do vilão”, observa MacFarlane, de forma bem franca.
Outro ponto importante levantado pelo criador foi a questão do apelo comercial.
Ele afirmou que, se tivesse sido convidado para assumir o comando da franquia, teria optado por um filme com classificação indicativa R, que refletisse uma abordagem mais fiel à natureza original do personagem.
“Eu teria feito Venom como um filme R, mas ninguém me procurou para isso.
Então, tudo bem…
Eles tentam torná-los mais identificáveis, afinal, todo mundo quer ver um personagem com o qual se identifique, mas às vezes, isso tira a essência do que ele realmente representa”, declarou MacFarlane.
O criador também recordou a influência de seu outro personagem emblemático, Spawn, destacando que sua obra sempre teve uma proposta mais adulta e sombria.
“A maioria das pessoas que curte Spawn busca algo realmente adulto, algo que não se resume a vender brinquedos ou camisetas.
Eu só queria fazer um filme legal, sem firulas, mas cada empresa tem sua própria agenda”, enfatizou, numa tentativa de justificar a divergência de visões quanto à humanização dos vilões no cinema.
No cenário atual de Hollywood, essa obsessão por “humanizar” os vilões, algo que remete aos conturbados tempos dos prequels de Star Wars, continua sendo um ponto de debate.
Muitos críticos apontam que essa tendência, ao tornar os vilões mais “relatáveis”, acaba diluindo a intensidade e o impacto que esses personagens deveriam ter na narrativa.
MacFarlane, por sua vez, defende que, ao transformar Venom num anti-herói, a essência do conflito com o Homem-Aranha – sua dinâmica original – foi completamente comprometida, o que, para os fãs de longa data, é um grande revés.
Para ilustrar o impacto dessa mudança, vale lembrar que, na visão original dos quadrinhos, Venom era justamente o contraponto sombrio do Homem-Aranha, um vilão com uma presença marcante que ajudava a definir a dualidade entre herói e anti-herói.
Com a ausência do aracnídeo nas adaptações recentes, a Marvel e a Sony se viram obrigadas a buscar outras alternativas para manter o apelo dos personagens.
Contudo, como aponta MacFarlane, essa “suavização” dos vilões pode estar, de certa forma, comprometendo a essência dos personagens, que sempre foram pensados para serem complexos e, muitas vezes, moralmente ambíguos.
A expectativa é grande para o futuro de Venom dentro do Universo Cinematográfico Marvel, especialmente se considerarmos a possibilidade de uma eventual integração do personagem à linha principal do MCU.
“Quando eu ver Venom novamente – e, de preferência, no MCU – quero ver um simbionte verdadeiramente vilanesco, com um anfitrião moralmente corrupto, que reflita a verdadeira essência do personagem”, afirmou MacFarlane.
No entanto, a chegada de novos elementos, como a aparição de Knull em Venom: The Last Dance e a sugestão de uma guerra de simbiontes, complicam ainda mais essa expectativa, tornando o cenário bastante dinâmico e cheio de possibilidades para o futuro.
Em resumo, as declarações de Todd MacFarlane deixam claro que há uma divergência significativa entre a visão original do criador e a direção que as adaptações cinematográficas têm tomado.
Enquanto MacFarlane insiste que Venom deveria permanecer fiel às suas raízes sombrias como vilão, o caminho seguido pelas grandes produtoras parece apontar para uma tentativa de tornar o personagem mais “amigável” e comercialmente viável.
Essa transformação, segundo o co-criador, pode ser vista como um sintoma de um problema maior na indústria cinematográfica, onde o equilíbrio entre fidelidade ao material original e apelo de massa é constantemente desafiado.
E assim, enquanto o debate sobre a verdadeira natureza de Venom continua, fica a reflexão sobre os caminhos que os grandes estúdios estão dispostos a seguir para conquistar o público.
Afinal, no final das contas, o que se busca é contar histórias que ressoem tanto com os fãs mais antigos quanto com as novas gerações – uma missão que, sem dúvida, exige escolhas difíceis e, por vezes, controversas.