Evangelion: Hideaki Anno faz grandes revelações após 20 anos
Neon Genesis Evangelion não é só um anime. É um marco cultural, uma experiência emocional e, para muita gente, um verdadeiro quebra-cabeça filosófico.
Estreando em 1995 e encerrando originalmente com dois episódios controversos em 1996, Evangelion deixou uma legião de fãs intrigados, frustrados ou simplesmente fascinados com seu desfecho introspectivo, longe da ação explosiva que o anime vinha entregando.
Agora, vinte anos depois, uma entrevista rara com Hideaki Anno, criador da obra, joga luz sobre um mistério que acompanhou gerações: afinal, qual o verdadeiro significado do final de Evangelion?
Na reta final da série, o que parecia ser a preparação para uma batalha épica entre mechas, anjos e conspirações governamentais dá lugar a um mergulho profundo na psique do protagonista, Shinji Ikari.
O clímax da trama se transforma numa sessão quase terapêutica, onde o personagem, diante de um cenário surreal, confronta seus próprios medos, inseguranças e traumas. O momento em que Shinji declara, “Eu me odeio, mas talvez eu possa aprender a me amar”, é, para muitos, tão desconcertante quanto revelador.
A cena final, com todos os personagens o parabenizando em uníssono, selou um desfecho que, para boa parte do público, parecia mais confuso do que conclusivo.
Ele explica que, na época, enfrentava sérios conflitos emocionais e, em vez de fingir controle criativo absoluto, decidiu usar sua própria instabilidade como matéria-prima para a narrativa. “Minha intenção era mostrar a confusão como parte da experiência. Isso, para mim, era o serviço que eu podia oferecer ao público.”
Ou seja, o final não é sobre o que aconteceu no mundo da história, mas sim sobre o que está acontecendo dentro de Shinji — e, por extensão, dentro de cada um de nós.
E foi justamente essa escolha que dividiu o fandom. Muitos esperavam uma conclusão lógica, detalhada, algo que amarrasse as pontas soltas da complexa mitologia da série. Em vez disso, receberam um ensaio emocional sobre identidade, pertencimento e saúde mental.
Não à toa, o impacto foi tão grande que gerou não só debates acalorados, mas também protestos formais no Japão, com fãs enviando cartas e até objetos ameaçadores à sede do estúdio Gainax.
Esse incômodo coletivo forçou Anno a produzir, no ano seguinte, o longa The End of Evangelion, que recria os dois episódios finais sob uma perspectiva mais tradicional — embora igualmente densa, sombria e filosófica.
Nos Estados Unidos e outros países do Ocidente, onde o anime chegou com certo atraso, a curiosidade sobre esse tal final “esquisito” só aumentava. A internet ainda era engatinhando, mas já fervilhava de fóruns e análises tentando decifrar o que realmente havia acontecido.
“Evangelion final explicado” virou uma busca frequente entre fãs iniciantes e veteranos.
E mesmo após The End of Evangelion e, anos mais tarde, os filmes da saga Rebuild, a pergunta central continuava: será que existe um sentido definitivo por trás de tudo?
A resposta, segundo o próprio Anno, é não. E é aí que Evangelion se destaca entre tantas obras da cultura pop. Ele não tenta te convencer de uma resposta certa — ele te desafia a encontrar a sua.
O vazio narrativo deixado pelo final não é um erro de roteiro, mas uma proposta consciente. Ao colocar a audiência dentro da mente de um jovem em crise, Anno transformou Evangelion num espelho.
O “parabéns” coletivo da última cena não celebra uma vitória contra o inimigo, mas o simples ato de aceitar quem você é, com suas dores, dúvidas e contradições.
Saber que o criador também enfrentava suas próprias batalhas torna tudo ainda mais autêntico. Quando ele diz “eu não entendia o mundo, então fiz uma obra sobre isso”, está nos dizendo que está tudo bem não ter todas as respostas.
Que sentir-se perdido faz parte da jornada. E que talvez, assim como Shinji, o maior passo que podemos dar é apenas reconhecer: “Eu quero estar aqui.”
Se você assistiu Evangelion e saiu com a cabeça fervendo, talvez essa seja justamente a intenção. E se você nunca viu ou quer rever com esse novo olhar, agora é a hora. Porque Evangelion não é uma história para ser apenas compreendida — é uma experiência para ser sentida.