Anne of Green Gables: quando o anime acerta em cheio o coração de uma história centenária
Lá em 1908, Lucy Maud Montgomery deu vida a uma das personagens mais apaixonantes da literatura infantojuvenil: Anne Shirley, a órfã de cabelos ruivos e imaginação transbordante.
De lá pra cá, foram incontáveis adaptações — cinema, teatro, TV — mas poucas conseguiram capturar a essência dessa menina como a nova animação do The Answer Studio. E aqui vai um elogio que não se faz com leveza: esse anime entendeu Anne melhor que muita gente que tentou antes.
‘Anne of Green Gables’ new anime: “Anne Shirley” teaser trailer
The anime will premiere on April 5.pic.twitter.com/6VTPXY4sYK
— Shoujo Crave (@shoujocrave) February 5, 2025
Um clássico com cara de Japão, alma de Canadá
Logo nos primeiros minutos, fica claro que essa adaptação não veio pra cumprir tabela. A estética é delicada, mas não simplista.
A direção de arte desenha o mundo de Avonlea com pinceladas suaves, fundos pintados à mão e uma luz que mais parece saído de um quadro impressionista. Mas o que mais surpreende é o cuidado com o ritmo — algo tão raro nos tempos de hoje.
Quando descreve o caminho até Green Gables como “o mais lindo da Terra”, a série para. Respira. Mostra. E aí você entende que ela não está exagerando — ela está sentindo.
A cena do quadro na cabeça, agora com impacto digno de anime
Tem cena icônica que não pode faltar, e Anne of Green Gables tem várias. Mas nenhuma tão simbólica quanto o momento em que Anne quebra o quadro na cabeça do Gilbert Blythe.
No livro, já é forte. Mas aqui, a animação leva a coisa a outro patamar. Não pelo exagero — embora a câmera lenta e os múltiplos ângulos deem um ar quase cinematográfico —, mas porque o gesto tem contexto, tem dor, tem dignidade. Não é birra de criança. É um basta.
Gilbert, com seus olhos brilhando como num shoujo de época, parece até deslocado da narrativa. E talvez esteja mesmo.
Porque Anne não joga o quadro só por raiva — ela joga por tudo o que já ouviu antes, por todo o silêncio engolido. É um marco. A partir dali, ela deixa claro: vai ser como é, doa a quem doer.
Mais que nostalgia: um espelho de sentimentos humanos
Se essa adaptação acerta tanto é porque ela entende que Anne não é só uma garotinha sonhadora. Ela é uma sobrevivente.
Alguém que aprendeu a imaginar para continuar vivendo. Que romantiza o cotidiano não por vaidade, mas por necessidade. E o anime respeita isso. Não suaviza, nem exagera. Mostra.
Anne não é boba. É sensível. E ver isso retratado com tanto zelo é quase como ler o livro pela primeira vez, de novo.
Entre Diana, Matthew e as tardes no campo: uma história que não envelhece
O relacionamento entre Anne e Diana é apresentado com a ternura que sempre teve — e com uma leve sugestão de romantismo platônico que o anime não força, mas também não nega.
Já Matthew, silencioso e gentil, tem aqui um dos melhores retratos que já vi.
Quando ele encontra Anne na estação, o olhar dele diz tudo. Um olhar que reconhece, em meio a uma multidão, uma alma parecida com a sua.
E essa é, talvez, a maior força da adaptação: ela reconhece o que há de mais humano em cada personagem. Sem precisar modernizar, sem cair no deboche.
Só sentindo, observando, deixando a história seguir seu curso natural.
Se você é desses que acredita que certas histórias atravessam o tempo porque falam direto com o coração, dá uma chance pra esse anime.
E depois me diz se não deu vontade de voltar no tempo e abraçar a Anne, ali mesmo, naquele banco de escola. E pra mais análises com alma de fã e conteúdo de verdade, me segue lá no Instagram e no Twitter. Tem sempre coisa boa vindo por aí, no NikaNerd.
Anne Shirley já tá disponível na Crunchyroll. Novos episódios aos sábados.